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Dia nacional da Botânica


Em 17 de abril é comemorado o Dia nacional da Botânica, data instituída pelo Decreto de Lei nº 1.147, de 24 de maio de 1994, em homenagem às comemorações dos 200 anos do nascimento do naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius.


Martius (1794-1868), um dos naturalistas mais famosos do século XIX, chegou ao Brasil em 1817 na comitiva da Imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, e após três anos de expedições pelo Brasil coletou milhares de espécies da flora brasileira, as quais posteriormente foram catalogadas e descritas na obra Flora brasiliensis - a maior referência para a botânica brasileira - produzida na Alemanha entre 1840 e 1906, pelos editores Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban, com a participação de 65 especialistas de vários países.


Detalhe de cromolitografia com coloração à mão de Karl Friedrich Philipp von Martius (Historia naturalis palmarum)

Porém, a história da Ciência que estuda as plantas é muito mais antiga e repleta de narrações, investigações e obras que abordam descrições, classificações e relações do reino vegetal em diferentes períodos históricos.



A história da Botânica


Os primeiros estudos e observações sobre o reino vegetal foram iniciados por comunidades ancestrais da era Paleolítica (a Idade da Pedra Lascada), que na ocasião eram nômades e por este motivo denominados caçadores-recoletores. Nessa época já havia um conhecimento sobre plantas nutritivas e um repertório de propriedades de plantas terapêuticas às quais se recorria para combater problemas de saúde.

Durante a revolução neolítica (entre 10.000 e 2.500 anos atrás, dependendo da região) a descoberta e o desenvolvimento da agricultura permitiu que essas comunidades se fixassem em locais, ampliando as chances de observações de ciclos e fenômenos naturais importantes para o cultivo de plantas utilizadas como alimento, assim como aumentando o repertório de conhecimento sobre plantas tóxicas e terapêuticas. A descoberta e o domínio do fogo também permitiram que novos usos das plantas fossem aplicados em celebrações e rituais de caráter fúnebre ou religioso. Todas essas tradições eram transmitidas oralmente de geração em geração.


Os primeiros registros botânicos vieram com as primeiras escritas adotadas como meio de comunicação humana. Algumas plantas também foram representadas através de pinturas rupestres por diferentes comunidades, porém de difícil identificação. Contagens em escrita cuneiforme trazem referências a colheitas e plantios.


As primeiras ilustrações conhecidas de plantas datam do neolítico (por volta de 3.000 a.C.) junto com descrições de jardins construídos pela civilização egípcia. Registros proto-botânicos não relacionados aos alimentos vegetais são conhecidos de literaturas medicinais de diversos povos do Egito, China, Mesopotâmia e Índia. A civilização egípcia dominava técnicas para cultivar de plantas e fabricar perfumes, cosméticos, medicamentos e um precursor do papel, feito com o papiro (Cyperus papyrus). Diversos registros arqueológicos retratam sua relação com a natureza e o empenho para ter plantas ornamentais em jardins, inclusive espécies aquáticas.


Afresco do túmulo de Nebamun - Tebas, Egito - 1.400 a.C. (Fonte: Museu Britânico)



Junto com outras ciências, a Botânica teve seus primeiros princípios esboçados na Grécia Antiga, sendo posteriormente desenvolvida durante o Império Romano. Neste período, destacaram-se Aristóteles, Teofrasto, Plínio, o Velho e Dioscórides.


A classificação de seres vivos proposta por Aristóteles se aprofundou também em dividir as plantas em "plantas com flor" e "plantas sem flor", sendo que o último agrupava samambaias, musgos, hepáticas, fungos e algas conhecidas.


Empédocles (490 a.C. - 430 a.C.) trouxe em sua época pensamentos filosóficos sobre o crescimento das plantas em direção à luz, despertando um interesse no processo. Foi ele quem traçou os primeiros esboços sobre a mutabilidade das espécies, que muito tempo depois encontraria abordagens científicas na teoria evolutiva de Charles Darwin.


Considerado o pai da Medicina, Hipócrates (460 a.C. - 370 a.C.) defendeu o uso das plantas terapêuticas para manutenção da saúde e bem estar do ser humano, distanciando suas abordagens, observações e testes das crenças e superstições tão comuns em sua época. Cerca de 600 anos depois, Galeno veio a consolidar o conhecimento médico herdado dos gregos e também reformulou preparados que eram populares na época e utilizados como antídotos, conhecidos pelo nome de teriaga, que podiam ter dezenas de plantas em sua composição.


A curiosidade e necessidade de se conhecer melhor o reino vegetal levou à diversas catalogações que iam muito além da descrição dos usos medicinais, incluindo tópicos sobre fitogeografia, anatomia, fisiologia, nutrição, crescimento e reprodução das plantas.


Teofrasto (371 a.C. – 287 a.C.) foi discípulo de Aristóteles que se destacou entre os estudiosos das plantas e passou a ser considerado o pai da Botânica. Suas obras De Historia Plantarum (História das plantas) e De causis plantarum (Sobre as causas das plantas) foram baseadas em palestras ministradas no Liceu de Atenas, onde sucedeu Aristóteles como líder. Grande parte do conhecimento e catálogo de plantas conhecidas se deve a Alexandre o Grande, que em suas conquistas militares coletava diversos espécimes para a coleção do jardim do Liceu. Alexandre o Grande foi orientado por Aristóteles até seus 16 anos.


De Historia Plantarum é uma obra sobre botânica aplicada que abrange 9 livros, e traz formas e a classificação biológica das plantas, botânica econômica aplicada às técnicas da agricultura (relação das colheitas com o solo, clima, água e habitat) e horticultura.


Nesta obra, Teofrasto descreveu detalhadamente cerca de 500 plantas, muitas vezes incluindo informações sobre habitat e distribuição geográfica, agrupando as plantas por características comuns, que hoje estão ao nível das famílias botânicas. Dentre os termos que utilizou e que persistem até hoje estão por exemplo Crataegus, Daucus e Asparagus.


À esquerda: folha de rosto da edição ilustrada de 1644 de Historia Plantarum.



A sua segunda obra, De Causis Plantarum, abrange temas sobre crescimento e reprodução das plantas, semelhantes aos estudos que hoje são tratados pela fisiologia vegetal. Seguindo a classificação de Aristóteles, Teofrasto agrupou as plantas em árvores, subarbustos, arbustos e ervas, notando ainda que as plantas poderiam ser anuais, perenes e bienais, monocotiledôneas ou dicotiledôneas, e realizou diversos estudos sobre estrutura floral, grau de fusão das pétalas e posição do ovário. Ao estudar processos de germinação, também percebeu a importância que o clima e o solo exercem sobre as plantas.


Os estudos reunidos de Teofrasto compreendem a primeira exposição clara dos princípios de anatomia, fisiologia, morfologia e ecologia vegetais, reunidos de tal forma que perduraram pelos 18 séculos seguintes.


Muitas plantas terapêuticas foram estudadas na Antiguidade, compondo a síntese da farmacologia da Grécia Antiga, destacando a obra De Materia Medica, escrita por Dioscórides (c. 40 - 90) e que aborda diversas informações médicas sobre 600 ervas porém o aprofundamento dado por Teofrasto sob os aspectos da ciência Botânica. De Materia Medica considera alguns agrupamentos de plantas, como das famílias Apiaceae e Lamiaceae, porém muito mais direcionado para propriedades farmacológicas. O conhecimento medicinal dessa obra perdurou por cerca de 15 séculos, tanto no mundo oriental como no ocidental, até o Renascimento europeu. Durante este período essa obra foi muitas vezes copiada em diversos idiomas, sendo a grande referência do herbalismo da época.


Traduções datadas dos séculos XII, XIII e XV da obra De Materia Medica de Dioscórides



Em Roma, os estudos botânicos tiveram uma abordagem mais prática e menos aparentada com a ciência pura. Neste período, destaca-se a enciclopédia de Plínio, o Velho (23 - 79), Naturalis Historia (História natural), obra formada por 37 livros, sendo os volumes 12 a 27 dedicados às plantas. Abordando fatos reais e fantasiosos sobre os seres vivos, traz uma distinção entre a verdadeira botânica, a agricultura e a medicina.


Segundo estimativas, eram conhecidas entre 1300 e 1400 espécies de plantas na época do Império Romano. Com a queda desse Império no século V, os avanços e descobertas científicas caminharam lentamente com tradições conservadoras da Igreja e o trabalho de algumas personalidades. Muitas conquistas e conhecimentos da Antiguidade foram ignorados ou perdidos durante a Baixa Idade Média, havendo redescobertas somente a partir do século XII.


Enquanto a Europa entrava no feudalismo, os conhecimentos prosperavam na China, Índia e no mundo árabe. Abu Hanifa de Dinavar (828 – 896) é considerado o fundador da botânica árabe, com sua obra Kitâb al-nabât (Livro das Plantas) que descreve 637 espécies, junto ao desenvolvimento vegetal, da germinação até à senescência, e detalhes sobre anatomia e morfologia das flores e frutos.


A preservação de textos greco-romanos enfatizou os estudos da medicina das plantas, junto a nomes como Avicena (c. 980 - 1037), cuja obra Cânone da Medicina, dividida em 14 volumes, é considerada um marco histórico.


O livro Tacuinum Sanitatis de Ibn Butlan (1038 - 1075) foi muito popular na Europa Ocidental durante a Baixa Idade Média, tanto por sua importância para o estudo da medicina medieval, como para o estudo da agricultura. Além de descrever as propriedades benéficas e prejudiciais dos alimentos e plantas, traz os elementos considerados essenciais para o bem-estar.


Acima: ilustrações da obra Tacuinum Sanitatis de Ibn Butlan (versão do século XIV)



Novas invenções como a imprensa e o papel permitiram muitos progressos na elaboração de herbários, assim como as navegações que permitiam expedições botânicas ampliaram consideravelmente o conhecimento sobre as espécies conhecidas.


O cultivo de ervas medicinais por monges nos pátios internos dos monastérios, futuramente proporcionaria a transição entre os jardins comuns e os jardins botânicos. Plantas utilizadas na medicina popular eram cultivadas para serem empregadas na medicina clássica como medicamentos. Nesse período, a Escola Médica Salernitana foi a mais importante fonte de conhecimento medicinal na Europa.


Embora a base de vida dos cidadãos da idade Média europeia fosse a agricultura, poucos tratados sobre esse tema foram publicados. As ilustrações por xilogravura e publicações traziam principalmente listas de plantas medicinais com descrições sobre as suas propriedades.


Os primeiros livros botânicos eram conhecidos como herbários e muitos dos autores eram curadores dos jardins das universidades, que compilavam informações de livros clássicos como o De Materia Medica. Alguns herbários traziam descrições botânicas extremamente detalhadas, sendo mais relacionados com a Botânica do que com a Medicina, como a obra Herbarum Vivae Icones do alemão Otto Brunfels (1464 – 1534) que revelou 47 espécies novas para a ciência. Brunfels foi apontado por Carl von Linné como o "Pai da Botânica".


(Imagem do Science Museum Group - CC BY 4.0, via Wikimedia Commons)

O médico e botânico alemão Leonhard Fuchs publicou De historia stirpium com descrições e ilustrações em xilogravura de 400 plantas nativas alemãs e 100 plantas estrangeiras, listadas em ordem alfabética com seus usos terapêuticos. As ilustrações foram desenhadas por Albrecht Meyer e copiadas nos blocos por Heinrich Füllmaurer, conforme representado na imagem acima.


O médico, botânico e farmacologista alemão Valerius Cordus (1515 – 1544) se destacou nas descrições formais que traziam detalhamentos de flores e frutos, além de características como número de câmaras no ovário, tipo de placentação do óvulo e observações sobre pólen e diversos tipos de inflorescência. Sua obra de cinco volumes (também chamada Historia Plantarum) foi publicada na metade do século XVI.


Trabalhos de Rembert Dodoens (1517–1585) e William Turner (1515–1568) revelaram respectivamente novas espécies dos Países Baixos e, nomes, descrições e localidades de muitas plantas britânicas nativas.


A estreita relação entre Botânica e Medicina pode ser percebida até os tempos atuais, principalmente nos nomes e conceitos de estruturas reprodutivas das plantas em alusão aos órgãos e estruturas reprodutivas do ser humano. A partir do século XVII, os herbários mais voltados para a Medicina (que omitiam o saber popular sobre as plantas) começaram a dar origem às farmacopeias modernas, enquanto que os herbários que eram mais dedicados aos aspectos botânicos, evoluíram nas compilações que recebem o nome de floras. Estas obras eram comumente acompanhadas de amostras depositadas em herbário (a coleção de plantas secas) que comprova a existência e as descrições botânicas contidas nas floras. A transição dos herbários (livros) para as floras marcaram definitivamente a separação da Botânica e da Medicina.


O Renascimento trouxe novos ares, proporcionando o retorno do interesse pelas plantas e esses estudos passaram a receber, junto com as artes e outras ciências, apoio da aristocracia, de classes de mercadores e da Igreja. As viagens marítimas de exploração haviam se intensificado, trazendo novas espécies de plantas exóticas que passavam a ser integrantes de coleções vivas nos jardins botânicos públicos ou particulares. Novas culturas agrícolas foram realizadas, com as plantas trazidas da Ásia, Índias Orientais e Novo Mundo. No início do século XVII já eram conhecidas mais de 6.000 plantas na Europa.


Pesquisadores como Carolus Clusius, Hans Sloane, Michel Adanson, João de Loureiro e Joseph Banks foram responsáveis por coleções botânicas oriundas de diversas partes do mundo: China, Índias Ocidentais, África, Canadá, Nova Zelândia e outras.


Para promover o conhecimento científico, foram criadas instituições como a Royal Society (fundada em 1660) e a Linnean Society of London (fundada em 1788), aumentando o número de publicações científicas e reforçando o apoio de instituições botânicas como Jardim do Rei em Paris, o Chelsea Physic Garden, os Reais Jardins Botânicos de Kew, o Jardim Botânico de Oxford e o Jardim Botânico da Universidade de Cambridge.


Ilustrações botânicas e pinturas florais de plantas ganham muito destaque, junto a esse movimento extremamente entusiasmado pela Botânica. Novos métodos científicos foram adotados trazendo rigor às pesquisas junto à botânica experimental e avanços na área de microscopia permitiram novas investigações e o surgimento da anatomia vegetal. As tentativas de classificação das espécies vegetais buscavam compreender melhor as relações existentes entre grupos de plantas.


Após muitas tentativas realizadas por diversos estudiosos, foi o botânico sueco Carl Linnaeus (1707-1778) quem marcou o início de uma nova era na taxonomia ao propor o método binomial para formular o nome científico das espécies, que é seguido até hoje. Em sua obra Species Plantarum, delineou a classificação das espécies vegetais. Linnaeus (na imagem à direita) também foi o primeiro a classificar as plantas, levando em consideração observações relacionadas aos horários de abertura e fechamento das flores, para comprovar a existência de uma regularidade de ritmos na vida das plantas.



Em Philosophia botanica, Linnaeus também deu origem à morfologia como é atualmente conhecida. Sua obra era apresentada na forma de organografia, descrevendo os órgãos das plantas em partes vegetativas e reprodutivas, com sugestões de agrupamentos taxonômicos. Interessado pelo trabalho de Linnaeus, o poeta e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe realizou estudos sobre as formas vegetais, sendo a ele atribuído o termo "morfologia".


As ilustradoras Maria Sibylla Merian (1647 – 1717), Marianne North (1830 - 1890) e Anne Pratt (1806 - 1893), entre muitos outros nomes, deixaram seu encantador legado com suas pinturas botânicas que até hoje inspiram novos artistas.


Da esquerda para a direita, trabalhos de Maria Sibylla Merian, Marianne North e Anne Pratt



Abrangendo disciplinas científicas que estudam o crescimento, a reprodução, o metabolismo, desenvolvimento, doenças e evolução da vida das plantas, a Botânica pode integrar muitas áreas de atuação, muitas delas que trabalham atualmente pela preservação e conservação das espécies em seus ambientes naturais.


O ensino de Botânica


Ao longo dos últimos séculos, a sistematização da ciência, a complexidade da linguagem científica e as mudanças na forma humana de viver e se relacionar com a natureza, fizeram com que o conhecimento sobre plantas estivesse apenas diante de um grupo pequeno de cientistas.


Uma das metas da atualidade é popularizar as plantas, através da ciência Botânica, que tanto conhece e está próxima do entendimento dos vegetais. Aproximar cidadãos comuns do conhecimento científico permite que a sociedade se aproprie do entendimento dos seres vivos que nos cercam, amplia a valorização da natureza e da ciência, capacita agentes educadores capazes de ter argumentos para proteger conscientemente o meio ambiente. É necessário conhecer para valorizar, se aproximar para compreender e propagar para que mais e mais pessoas se apaixonem pelas plantas e criem novos laços com a natureza.


As atividades da Escola de Botânica são uma forma de levar o ensino da ciência Botânica para todas as pessoas que desejam se aproximar do assunto e buscam promover um melhor entendimento da flora de modo que seja estabelecido um novo pensar sobre a convivência com as plantas, algas, fungos e demais seres vivos.


Propagar e difundir o conhecimento sobre as plantas é uma das formas de estabelecer uma relação direta com o reino vegetal e se sentir parte integrante deste sistema tão maravilhoso que é a natureza.



Por: Patrícia Dijigow e Anderson Santos


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