As antologias, compêndios e seleções de trechos de outras obras literárias sobre flores eram conhecidas pelo nome de florilégio - uma palavra derivada do latim, formada pelos termos "flos" (flor) e legere (reunir, escolher).
O termo era aplicado aos tratados sobre flores ou livros (principalmente os medievais) dedicados às plantas medicinais, culinárias, ornamentais, ou com alguma outra aplicação conhecida.
O médico e botânico alemão Basilius Besler (1561 - 1629) e suas ilustrações.
Durante a Idade Média, os florilégios reuniam trechos escritos por filósofos, médicos, naturalistas e outros estudiosos das Ciências Naturais, com o intuito de ilustrar algum tópico, tema ou doutrina, compondo coleções sistêmicas. Após a Idade Média, o termo passou a ser utilizado com significado mais amplo, relacionado ao caráter científico em geral.
Quando as ilustrações de plantas tiveram seu florescimento artístico, entre os séculos XV e XVI e principalmente com novas técnicas para impressão de gravuras, diversos artistas foram encarregados de retratar a beleza das coleções de jardins botânicos ou particulares, que cresciam com a chegada de novas espécies trazidas de diversas partes do mundo. Esses trabalhos eram posteriormente reunidos em florilégios.
O médico e botânico alemão Basilius Besler (1561 - 1629) foi o responsável pela organização e gerenciamento dos trabalhos de equipes de artistas e artesãos para a publicação (em 1613) do livro Hortus Eystettensis, um dos mais famosos florilégios do mundo. A obra foi encomendada pelo príncipe-bispo de Eichstätt (Johann Konrad von Gemmingen) para ilustrar a riqueza de seu jardim.
Da esquerda para a direita: alhos e tulipa, coroa-imperial e anêmonas.
Ilustrações de Hortus Eystettensis, 1613.
Para realizar a obra, Besler observou as plantas da coleção viva (que abrangia mais de mil exemplares diferentes, oriundas de diversas partes da Europa e Américas) durante as quatros estações, traçando os primeiros esboços. Na sequência, os esboços coloridos eram passados para a oficinas, onde eram adequados para gravura, em preto e branco, com a gravação de placas de bronze. Entre a equipe de gravadores, estavam nomes como Johannes Leypold, Georg Gärtner, Levin e Friedrich van Huslen, Peter Isselburg, Hienrich Ulrich e Servatius Raeven.
A edição de luxo teve todas as 367 placas impressas em papel de alta qualidade e coloridas à mão. Essas edições coloridas são consideradas os primeiros livros impressos mais valiosos do mundo. A primeira tiragem teve 300 cópias, todas vendidas no período de quatro anos. Com o intuito de representar as plantas em tamanho natural ou o mais próximo possível, o livro foi impresso no maior tamanho de papel que existia na época: 57 x 46 centímetros. Já a versão em preto e branco com textos era destinada a servir como livro de referência para boticários e demais estudos.
As ilustrações foram organizadas de acordo com as quatro estações do ano. Se considerarmos o sistema de classificação proposto por Carolus Linnaeus (o pai da taxonomia moderna) e seguido atualmente, a obra abrange 90 famílias e 340 gêneros - um grande tesouro da literatura botânica. Em leilão, um exemplar original chega a custar mais de meio milhão de dólares.
Hortus Eystettensis (Nuremberg, 1613) - edição da Biblioteca da Universidade de Liège
(foto: J. Donvil, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0,
via Wikimedia Commons)
Os jardins do castelo do príncipe-bispo foram destruídos em 1634, por tropas suecas. Felizmente, a obra de Besler e equipe permanece perpetuando a beleza e o amor pelas flores.
Veja detalhes do livro no vídeo "The Greatest Flower Book in the World":
(Para acionar as legendas em Português, utilize a ferramenta de configurações no vídeo)
Existe uma versão moderna do livro, com as ilustrações e comentários, lançada em 2020 pela editora Taschen (somente em Inglês): Florilegium - The book of plants, dos autores Klaus Walter Littger e Werner Dressendorfer. Disponível nas grandes livrarias.
Por: Patrícia Dijigow
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