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O que temos a aprender com uma planta exótica

Atualizado: 21 de jun.


Spathodea campanulata



A espatódea (Spathodea campanulata) é uma árvore de origem africana, nativa das regiões de florestas tropicais de Angola até Uganda, pertencente à família Bignoniaceae.


Popularmente é chamada de espatódea, bisnagueira, tulipeira-do-gabão, xixi-de-macaco ou chama-da-floresta. Pode atingir até 30 metros de altura, tem uma exuberante floração de cor laranja-avermelhada, o que a torna notável e imponente.



Antes de expormos diversos estudos sobre a tão questionada relação dessa espécie com as abelhas nativas brasileiras, é necessário esclarecer alguns aspectos: o primeiro deles é que a espatódea é uma espécie exótica, que foi introduzida no Brasil para arborização urbana por sua inegável beleza - infelizmente o único fator considerado na ocasião. Ela não é nativa do território brasileiro ou da América do Sul, e foi “importada” da África.


A introdução de espécies exóticas, sem estudos detalhados e profundos sobre as relações ecológicas entre diferentes espécies de um ecossistema pode trazer uma série de consequências para a flora e fauna local e de modo mais abrangente, para o próprio ecossistema. Uma espécie exótica pode encontrar muita vantagem em viver em um novo ambiente, pois pode ter acesso a mais nutrientes no solo, a ausência de predadores e da competição natural de seu espaço de origem, e por este motivo a espécie introduzida passa a competir com as plantas nativas, podendo se revelar uma potencial invasora, capaz de se propagar com grande facilidade promovendo um desequilíbrio ambiental.


Diversas plantas exóticas, ao serem introduzidas em novos territórios, perdem o contato com seus polinizadores. Há plantas que encontram nos novos ambientes onde são introduzidas, polinizadores capazes de contribuir para o ciclo reprodutivo, mas nem sempre isso acontece, pois há espécies vegetais que dependem de polinizadores específicos - como acontece com as orquídeas (gênero Vanilla) cultivadas em diversas partes do mundo para a obtenção da baunilha - e que fora do ambiente natural são manualmente polinizadas por humanos.


A espatódea, assim como qualquer Angiosperma, depende da polinização para que seus frutos sejam gerados. Em diversas regiões do mundo onde a espécie foi introduzida, a polinização é realizada por novos agentes polinizadores. Nas regiões onde é nativa, nota-se que a polinização é dada por aves. Nas regiões onde foi introduzida, é possível observar que além das aves, os morcegos atuam como agentes polinizadores.


À esquerda: cacho com o pássaro Myna. À direita: flor e fruto da espatódea.



As flores são dispostas em cachos. Abrem primeiro as flores mais externas, de modo que as aves encontram suporte para o pouso nos botões florais ainda fechados. O fruto da espatódea é uma cápsula que contém muitas sementes aladas, que são facilmente dispersas pelo vento durante as estações secas.


Pesquisadores (consultar bibliografia no fim do texto) observaram uma característica comum nas flores de espatódea em locais onde ela foi introduzida: a presença de diversos grupos de insetos mortos em seu interior, em contato com o néctar. As grandes flores das espatódeas apresentam além do néctar, uma mucilagem (substância gelatinosa). Uma característica relatada por pesquisadores é presença de proteínas no néctar da espatódea, cuja função é proteger as partes florais, além de compostos químicos como terpenos, esteroides e carboidratos acetilados. Para alguns especialistas, a mucilagem presente nas flores atua como um mecanismo contra espécies de insetos que tentam se beneficiar do néctar (a árvore é polinizada por pássaros onde é nativa). As paredes internas das pétalas são muito escorregadias, fazendo com que os insetos visitantes que caiam na corola (conjunto de pétalas), morram e sirvam de complemento para a alimentação das aves.


É importante considerar que, do ponto de vista biológico, independente de onde esteja cultivada, a espatódea continua a ofertar recursos para quem a visitar.


O Brasil abriga mais de 400 espécies de abelhas nativas dos gêneros Melipona, Trigona, Scaptotrigona, Tetragonisca, Austroplebia, entre outras.


A abelha-europeia (Apis mellifera) também é uma espécie exótica, introduzida no Brasil pelos jesuítas no século XIX, com a finalidade de produzir velas a partir da cera encontrada nas colméias. Outra abelha introduzida no Brasil e exótica é a abelha-africana (Apis mellifera scutellata).


Independente de sua origem, as populações de abelhas estão em declínio devido diversos fatores, entre eles o uso excessivo de agrotóxicos, o cultivo de plantas geneticamente modificadas, monocultura intensiva, mudanças climáticas na Terra e a introdução de espécies exóticas - sejam plantas, animais ou outros seres vivos.