Publicações sobre os povos originários do Brasil
Atualizado: 18 de abr. de 2022

Anualmente é celebrado no Brasil em 19 de Abril, o Dia do Índio que recorda a realização do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu na mesma data em 1940 em Patzcuaro, no México. Este congresso teve como objetivo reunir os líderes dos povos originários de diferentes regiões do continente americano para zelar e despertar atenção pelos seus direitos.
A data foi oficializada no Brasil através do Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943, com o intuito de lembrar e esclarecer o quanto os povos originários exerceram o papel fundamental na formação cultural e étnica da população brasileira. A Organização das Nações Unidas (ONU) também criou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado em 9 de agosto, para conscientização mundial sobre a importância de preservação e reconhecimento dos direitos indígenas.
Muito antes da chegada dos colonizadores nas américas, todo o território era amplamente povoado por muitas pessoas, que desenvolveram uma rica cultura abrangendo diversos costumes, línguas e conhecimentos que permanecem vivos na sociedade brasileira, ainda que muito tenha sido perdido em virtude das dizimações e preconceitos que recaíram sobre essas comunidades.
Entre as contribuições para a sociedade mundial, estão a domesticação e aproveitamento de várias plantas alimentares como por exemplo a mandioca, o milho, batata-doce, caju, abacaxi, amendoim, mamão, abóbora e feijão.

Cultivada em todos os Estados do Brasil e ingrediente básico da alimentação, o uso da mandioca (Manihot esculenta) vai muito além da culinária: dela é possível obter combustível, móveis de madeira compensada, peças de vestuário, cosméticos e remédios.
Os índios a domesticaram e desenvolveram a técnica de fabricação da farinha e o método de extrair seus elementos tóxicos (presente em todas as variedades, em maior ou menor grau).
A lenda da mandioca conta que uma jovem tupi deu à luz uma menina muito branca, chamada Mani. Mani era muito querida por todos, mas adoeceu e faleceu muito pequena. Seguindo a tradição da comunidade, a menina foi sepultada no interior da própria oca e poucos dias depois, nesse local nasceu uma planta. Ao cavar a terra para examinar a planta, viram que internamente suas raízes eram brancas como Mani e após cozidas, forneciam alimento abundante. A planta recebeu o nome manioca (casa de Mani).

Típica da região amazônica, vitória-régia (Victoria amazonica) é uma planta aquática e nativa, pertencente à família Nymphaeaceae. Sua origem é contada através de uma das lendas mais famosas do folclore brasileiro, de origem tupi-guarani.
Na mitologia tupi, Jaci é a deusa Lua (protetora das plantas, dos amantes e da reprodução) que ao se esconder atrás das montanhas, levava para si as mulheres de sua preferência e as transformava em estrelas.
Naiá era uma jovem guerreira que se apaixonou por Jaci e sonhava com o momento de ser levada. Apesar de alertada pelos anciãos, à noite Naiá perambulava pelas montanhas atrás da lua, mas nunca conseguia alcançá-la. Ao parar para descansar à beira de um lago, Naiá viu a imagem da lua refletida nas águas e acreditando ter finalmente encontrado Jaci, lançou-se ao lago e se afogou.
A lua, triste pela morte da moça, resolveu transformá-la em uma estrela diferente de todas que brilhavam no céu: transformou Naiá na "Estrela das Águas" - a planta vitória-régia, cujas flores perfumadas e brancas só abrem à noite, e ao nascer do sol ficam rosadas.

Além de costumes que foram incorporados ao cotidiano (como o banho diário), o legado indígena tem diversas lendas que passaram a compor o folclore brasileiro, assim como a nomeação de uma infinidade de lugares, pessoas, plantas, fungos e animais (cerca de 20 mil palavras).
O livro Mbaé Kaá o que tem na mata - A Botânica nomenclatura indígena de Barbosa Rodrigues (publicado pela Dantes) é uma defesa do conhecimento nativo diante do meio científico.
O autor João Barbosa Rodrigues (1842 - 1909) foi um engenheiro, naturalista e botânico brasileiro, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde trabalhou até sua morte e criou o cargo de naturalista viajante, para enfatizar a importância da pesquisa de campo. Realizou diversas expedições, inclusive no vale do Rio Amazonas, de 1872 a 1874, com o objetivo de complementar os estudos sobre palmeiras de von Martius. Entre suas publicações, destaca-se seu trabalho sobre orquídeas, dividido em três volumes, Genera et species orchidearum novarum e a Iconografia das Orquídeas Brasileiras. Viveu entre os Crichaná no meio da selva amazônica, com quem estudou e aprendeu a nomenclatura botânica indígena.
Publicado pela primeira vez em 1905, este livro é de fundamental importância para apoiar e reconhecer a sabedoria indígena no Brasil e no mundo.